Reflexões sobre jornalismo na Compós 2014

{Belém, PA – UFPA} Os debates no GT de Jornalismo da Compós 2014 foram de altíssimo nível; muito bom estar ao lado de gente boa e competente que pensa profundamente o jornalismo (como Tattiana Teixeira, Ronaldo Henn, Fernando Resende, Suzana Barbosa, Moreno Osório,  Beatriz Becker, Mônica Machado, Ana Cláudia Peres, Diógenes Lycarião, Rousiley Maia, Maíra Sousa, Marcos Paulo da Silva, Naara Normande e Yuri Almeida).

Discutimos jornalismo online, critérios de noticiabilidade, o papel do testemunho nas narrativas jornalísticas, as crises no jornalismo, a mídia ninja, jornalismo e redes sociais, curadoria no jornalismo e mais. Os artigos estão já disponíveis nos Anais do evento.

O  paper que apresentei sobre jornalismo digital recebeu críticas lindas e proveitosas; além disso tudo, tive a chance de estar presencialmente com pesquisadores que admiro muito e ainda a oportunidade de conhecer outros que passei a admirar. Como um presente dos céus, matei a saudade de velhos amigos. No último dia em Belém, uma surpresa: um passeio num barco Hacker no rio Guamá, na Amazônia paraense, com direito a interagir com a comunidade ribeirinha, comer cacau e dar umas braçadas na água.

Mais uma leitura recomendada: Tendências no Jornalismo, mantida pelo colega Moreno Osório.

GT de Jornalismo da Compós 2014 - UFPA - Belém, PA.
GT de Jornalismo da Compós 2014 – UFPA – Belém, PA.
GT de Jornalismo da Compós 2014 - UFPA - Belém, PA.
GT de Jornalismo da Compós 2014 – UFPA – Belém, PA.
GT de Jornalismo da Compós 2014 - UFPA - Belém, PA.
GT de Jornalismo da Compós 2014 – UFPA – Belém, PA.
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GT de Jornalismo da Compós 2014 – UFPA – Belém, PA.
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Para que criamos estratégias digitais no jornalismo?

Para conseguir mais likes, shares e cliques (e ganhar rios de dinheiro). Certo? Não, não somente. Quem desenha estratégias digitais para o jornalismo deveria querer um pouquinho mais que isso. Como ter o compromisso de fazer circular pela rede conteúdos e serviços relevantes (e dignos) para a sociedade. Como diz  Carlos Chaparro, o jornalismo lida com a transformação da realidade — portanto, quaisquer estratégias de visibilidade deveriam considerar tal condição.

Para saber mais: Jonathan Colman explica aqui a diferença entre estratégia de conteúdo e estratégia de marketing (além de fornecer uma robusta bibliografia sobre o tema). Paul Bradshaw fala um pouco sobre como construir estratégias online para o jornalismo neste texto aqui. Também trato do assunto na minha tese doutoral, ressaltando que o desenho das estratégias de conteúdo precisa passar pelo bom entendimento de várias disciplinas, entre elas: experiência do usuário (UX), arquitetura de informação pervasiva (ubíqua), lógica computacional e consumo informativo em redes sociais.

Como a autoridade é reconhecida na rede? Um estudo sobre liderança na rede social Facebook (USP, 2010)

BERTOCCHI, Daniela; SILVA, Helio & Linares, Nicolás Llano. Como a autoridade é reconhecida na rede? Um estudo sobre liderança na rede social Facebook. Trabalho apresentado para a disciplina Recepção, Mídia e Persuasão (CRP5980F3/5),ministrada pelo Prof. Dr. Leandro Leonardo Batista, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de S. Paulo, 15 de Dezembro de 2010.

Colaboração e competição online: Onde está o balão vermelho?

Estava folheando a revista Época Negócios dessa semana quando encontrei um pequeno texto que falava de uma experiência com redes sociais realizada pelo Darpa. Pesquisas desse tipo acontecem aos montes. Mas achei curisamentew interessante o Darpa fazer algo neste sentido.

Para quem não sabe, o Darpa é a agência de pesquisa militar dos EUA. Está ligado ao Pentágono. A sigla significa “Defense Advanced Research Projects Agency” — algo como “Agência de Pesquisas em Projetos Avançados”.

Como bem lembrou André de Abreu nos comments, foi o Darpa que criou em 1969 a ARPANET — primeira rede operacional de computadores à base de comutação de pacotes, ou seja, a precursora da nossa Internet.

Segundo informa a revista, o experimento serviu para o Darpa entender melhor os mecanismos de colaboração online.

A experiência militar com redes sociais foi a seguinte:

-> O pessoal do Darpa instalou 10 balões atmosféricos vermelhos em diferentes cidades dos Estados Unidos.

-> Depois, o órgão divulgou que pagaria 40 mil dólares para a primeira pessoa (ou equipe) que informasse com precisão a latitude e longitude de cada balão.

-> Os interessados em ganhar o prêmio deveriam recorrer ao Twitter, Facebook e afins (também sites e aplicativos diversos) para descobrir o ponto geográfico exato dos objetos.

O que aconteceu?

Bem, entraram na competição uma equipe do MIT, um grupo de cientistas de Harvard e outros 4 mil competidores.

Depois de muita apuração e checagem de informações, a equipe do MIT venceu: em pouco mais de 8 horas conseguiu dizer exatamente onde estavam os dez balões vermelhos.

Havia balões em regiões pouco populosas — como o deserto do Arizona — e outros em cidades mais movimentadas, tipo São Francisco.

Após o concurso, o Darpa falou à imprensa sobre o evento. Isso foi em dezembro do ano passado. Há notícias no NYT, Guardian e CNN….

Compilei as mais interessantes conclusões, vejamos:

  • A colaboração em rede social tende a funcionar melhor em casos pontuais, com custo zero e que conduzam a uma solução verificável. Exemplo? Localizar bombas e evitar ataques terroristas. As redes podem nunca servir para encontrar a cura do câncer, por exemplo. Além disso, têm força em momentos de crise. Ou seja, em situações agudas.
  • A colaboração desinteressada dos usuários é geralmente exceção, não regra. O MIT, por exemplo, se comprometeu a remunerar os colaboradores que fornecessem dados corretos sobre os balões. O grupo usou um esquema de “coleta em pirâmide“: pagamentos diferentes de acordo com a proximidade física da pessoa com o balão. O sujeito que avistasse, com os próprios olhos, um balão vermelho do Darpa e enviasse a localização para o MIT poderia ganhar até 2 mil dólares. O Darpa acredita que eles foram os vencedores por conta deste “estímulo” financeiro.
  • Outro ponto que o Darpa ressaltou é que muitos usuários plantaram informações falsas nas redes sociais com o intuito de atrapalhar os concorrentes. Os competidores mais bem sucedidos foram os que criaram hierarquias para julgá-los. Os mais confiáveis eram os que vinham de fontes conhecidas ou mais próximas.

É claro que o Darpa queria saber a rapidez com que as pessoas podem usar as redes sociais online para resolver um problema de âmbito nacional. Por isso, vale muito a pena ficar de olho em experimentos militares e em suas conclusões. Aliás, o Darpa está no Twitter… @darpa_news

Mas eu pergunto: é possível generalizar tais conclusões?

A twitter litteracy de nossas celebridades e gurus: cada um no seu quadrado?

Mais uma vez exponho neste Intermezzo a questão sobre o uso descontextualizado de ferramentas digitais de comunicação. É a vez do Twitter. Não tenho qualquer pretensão de criar aqui um discurso “dita regras” ou “ciber-cri-cri”,  já que a compreensão e o uso de uma mídia tem tudo a ver com a forma social na qual se insere. Ou seja: cada um no seu quadrado? Nem tanto…

Seja por obrigação profissional e acadêmica, ou ainda por vocação de nosso blog, cabe criticar, refletir, discutir, dialogar sobre os temas de comunicação digital. Blogs, redes sociais, jornalismo online, carreira são apenas alguns pontos que recentemente pautamos aqui.

A recentíssima migração para o twitter de figuras deste Brasil que podem ser categorizadas (termos cunhados pela própria mídia) como celebridades, gurus, comunicadores influentes, comunicadores emergentes, pioneiros, entre outros, tem chamado a atenção: alardeiam no ciber e no papel números recordes de seguidores, “conversam” com essa massa numérica e distribuem “olás” e “obrigados” rede afora. OK! Novamente cada um no seu quadrado?

Nem tanto, já que esse grupo de tuiteiros neófitos têm em comum, quase sempre, origem ou atuam no mundo da comunicação e, portanto e supostamente, são referência para uma enorme quantidade de pessoas. E, analisando algumas celebrities timelines no twitter, são poucas as que exercem seu papel de influenciador corretamente com relação ao twitter.

Antes de tudo, que tal retormarmos o que é e para que serve o twitter? Falamos de uma ferramenta típica para ambiências digitais em formato de rede social, caracterizada como microblog por incorporar a postagem como forma expressiva, cometários e disseminação (o RT) como forma de socialização e interação. Tudo isso com o diferencial de objetividade de conteúdo (140 caracteres) e inclusão de hiperlinks, resultando num poderoso objeto social em tempo real, que leva seguidos e seguidores a um proceso de nagevação contextualizada na web.

Entender e aplicar pelo menos uma parte disso é o que chamo de twitter litteracy. Claro que não se pode exigir de qualquer tuiteiro a aplicação irrestrita do conceito proposto pela ferramenta. No mínimo, utópico. Mas, há que se refletir sobre a sistemática transposição de conceitos e indicadores da “velha mídia” que as twitter celebrities tupiniquins praticam e acabam por virar referência de como usar esta incrível rede social.

Acabei por criar uma listinha de pequenos desvios de uso do twitter que merecem discussão por parte do leitores do Intermezzo. Penso que cada um dos itens é um novo post/comentários em potencial:

  • Foco constante na ampliação da quantidade de seguidores, não importa quem são, como e de onde foram capturados. Algo parecido com índices de audiência e de circulação de tempos quantitativos de mensuração.
  • Extrema dificuldade em produzir algo coerente e útil para os seguidores em 140 caracteres. Algo de “torpedos” aparece como resultado.
  • Culto ao ego e respectivas peripécias vida afora. Sem falar de egos que rapidinho viram “nós” e portadores da opinião coletiva. Algo de “narciso” cai bem.
  • Uso da rede de seguidores (que sempre deve ser grande como símbolo de sucesso…) para realizar enquetes nonsense, fazer propaganda velada ou explícita de produtos, serviços, eventos e que tais. Algo de comercial em causa própria  parece adequado.
  • Disseminação  do mau uso da mal-tratada Língua Portuguesa: pontuação, erros de grafia, concordância, e similares. Algo de irresponsável é cabível.
  • Desagradável tendência em alardear que o twitter é um grande brincadeira ou parque de diversões. O momento de descontração, lazer e tornar-se igual por parte da celebridade ou do guru. Algo de imaturo fica no ar.
  • Raríssima condição para a proposição de objetos sociais em seus posts. Por acaso algum link, alguma foto, algum ponto de ancoragem que gera conhecimento foram propostos para os seguidores?  Algo de…..

Claro  que poderia  continuar listando, ou criticando. Mas, gostaria de propor aos leitores uma pausa prá olhar a cena e sermos razoavelmente criteriosos em nossa função comunicacional.

A grande maioria dos pontos indicados já ocorreu em momentos anteriores do mundo ciber, desde a descrença ancestral dos profissionais no potencial de comunicação da web, até descaracterizações mais recentes como no caso dos blogs (já discutido no Intermezzo). O que decepciona é que, quase sempre, influentes gurus da comunicação e mobilizadores das massas, preferem usar errado ao invés de buscarem aprender, conhecer e exercer adequadamente o uso de uma nova mídia.  Fica mais fácil bagunçar e manter o status quo do que se dar ao trabalho de fazer do modo correto. Afinal, o que importa é o volume de uma audiência em aplauso embevecido, e não a qualidade da mensagem, ainda que para poucos multiplicadores.

Ufa! Breve desabafo pessoal (portanto, sem links e referências autorais) neste último post de 2009.

Merry, merry Christmas e and a very happy new year!!!!!!!!

Em tempo: esse post tem caráter genérico e, propositadamente, não cita qualquer identidade no twitter que venha a contextualizar a opinião.

(Beth Saad)

Digimétodos ou a metodologia da pesquisa em tempos digitais

O chavão “não se pode navegar em novos mares com mapas antigos” talvez caiba na abertura desse post. Com os fenômenos comunicacionais se reconfigurando sob a mediação das mídias digitais e das redes sociais os métodos tradicionais de pesquisa talvez não sejam mais válidos ou não possam mais ser utilizados da maneira usual.

As técnicas de etnografia continuam válidas ao analisarmos redes complexas como Facebook ou Twitter? Pensando nisso, reproduzo aqui uma pequena bibliografia copilada pela professora Maria Immacolata Vassalo de Lopes sobre webmétodos; são autores que buscam justamente uma nova metodologia da pesquisa em comunicação levando em conta as mudanças que o digital trouxe para esse campo do conhecimento. Por isso eu prefiro o termo digimétodos. Afinal, eles são válidos não só para a análise do ambiente web, mas também para outros cenários digitais, como o do celular e dos videogames:

(Andre de Abreu)

Cuidado com o especialista em redes sociais

A história já provou: a novidade atrai os novos profetas. Não que mídias sociais sejam novidade, afinal, aquelas que reúnem jogadores de videogame já existem e já são exploradas comercialmente há quase uma década. Mesmo assim, não podemos negar o zunzunzum atual em torno delas.

Na esteira desse movimento, surgiram nos últimos meses dezenas de empresas e consultores “especialistas” em redes sociais. Entretanto, o que se tem visto até o momento são ações e conselhos baseados no achismo ou no “feeling”.

Se olharmos para trás, iremos encontrar algumas saídas que nos tirarão deste empirismo. Na sociologia, o campo que dá conta deste assunto é o da Análise de Redes Sociais (SNA, em inglês). Ele se dedica a propor métodos para a mensuração das relações de poder e influência, identificar pontos de concentração das informações, enfim, trata-se de uma área multidisciplinar – e, por isso, fascinante – que envolve, além da própria sociologia, estatística, matemática, comunicação e tecnologia.

Conhecer um pouco mais sobre SNA nos leva a questionar certas ações propostas por esses profissionais que, no fundo, não oferecem embasamento ou indicadores claros que permitam mensurar a real eficácia de uma ação de comunicação realizada neste tipo de ambiente.

Por exemplo, um dos melhores perfis para realizar ações no Twitter seria o de Marcelo Tas. Afinal,  ele é dono de uma rede com mais de 280 mil seguidores. Logo, qualquer mensagem chegará a praticamente todos os rincões da “twittersfera”. Entrentanto, aplicando a metodologia de mensuração da SNA, veremos que isso não é verdade. Como a maioria dos seguidores de Tas são atraídos pela sua popularidade na TV ou por matérias na imprensa sobre o Twitter, essas pessoas não têm muitos seguidores de segundo nível. Basta conferir a lista de followers do jornalista para verificar o quão difícil é encontrar um perfil que tenha mais de 50 seguidores.  Resumindo, uma mensagem difundida por ele perde força já na primeira camada da rede. Por outro lado, perfis com menos seguidores de primeiro nível, mas com uma rede de segundo nível mais concentrada, têm potencial e eficácia de comunicação muito maiores.

No exemplo hipotético a seguir, podemos observar isso. Suponhamos que Tas possui 6 seguidores e cada um deles é seguido por outras 2 pessoas. Se toda a rede de primeiro nível retuitar o jornalista, a mensagem original chegará a 18 usuários. O segundo usuário tem menos seguidores de primeiro nível (3), porém eles possuem uma rede de segundo nível muito mais forte, com 8 seguidores cada. Logo, se uma mensagem for retransmitida por toda a rede, ela chegará a 27 pessoas, ou seja, 50% a mais em relação à Tas.

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A partir desta observação, quem você sugeriria para uma ação em redes sociais? Por esse motivo, na próxima vez que for contratar um consultor ou uma empresa “especializada” em redes sociais, pergunte como andam os conhecimentos em SNA.

Para quem quer se aprofundar em comunicação na redes sociais sugiro conhecer inicialmente o trabalho da Orgnet e comparar com aquilo que é oferecido no Brasil pelas ditas agências 2.0. Em seguida, vale uma parada no site da International Network for Social Network Analysis. Por fim, indico a leitura do e-book Introduction to Social Network Methods, que oferece uma bela visão sobre o tema. Com isso, você estará bem munido para encarar de forma crítica os argumentos e as proposta superficiais desses novos profetas da web 2.0.

(Andre de Abreu)

Ainda sobre blogs …mas, para que servem mesmo?

2006042700_the_blog_345Na esteira do buzz sobre o Fatos e Dados, da Petrobrás tive acesso a um interessante conjunto de opiniões e posições das mais diversas fontes – jornalistas, pesquisadores, profissionais de mercado, curiosos, entre outros. Disso tudo ficou muito claro que o calor das discussões acaba por deixar de lado a essência do tema: o uso do blog como uma ferramenta de mídia social.

Pelo lado dos jornalistas e das empresas jornalísticas a discussão ficou centrada na relação fonte-veículo e também no uso do blog como mídia. Os profissionais de comunicação tinham por foco a quebra do paradigma da mediação e a possibilidade concreta de uso das ferramentas de mídia social para isso, mas com uma sucessão de dúvidas sobre como e para que. Pesquisadores e a academia mantiveram-se à distância, como usual. Usuários e blogueiros, no mínimo, fizeram a festa. Tais opiniões refletem a diversidade de compreensão dobre o que na realidade são e para que servem os blogs.

Claro que não vou aqui nesse Intermezzo discorrer sobre as origens do blog nos diários pessoais,  sobre a quantidade de autores que discutem cientificamente o  tema (sim, blogs há tempos são objeto de pesquisa!) ou sobre seu uso nos mais diferentes campos de atividade. Existem muitas fontes para isso na própria web, prá começar. Gostaria, de indicar dois pontos-chave que condicionam o uso (adequado ou não) do blog em nossa rotina comunicacional:

1. A confusão entre plataforma de publicação e ferramenta de mídia social

Desde suas origens o blog  trouxe uma característica muito atraente para qualquer usuário da web: a possibilidade de publicar e estar presente na grande rede, gratuitamente e sem esforços técnicos de especialista. Com isso, plataformas como WordPress e Blogger possibilitaram a existência dos 133 milhões de blogs registrados, segundo o último relatório sobre a Blogsfera do Techoratti. Com isso, surgem em ritmo de pãozinho quente os mais diversos tipos de propostas de conteúdo utilizando esse caminho rápido e fácil de publicação, confundindo o uso social da  ferramenta com uma forma de construir um website. O que temos, em muitos e muitos blogs, são o que chamo de blogsites: uma página na web, que pouco explora as características oferecidas pela plataforma que configurariam o blog como uma mídia social.

Com isso, os posts acabam se transformando em longos textos com tom de press release ou de discurso individualista; comentários inexistem ou parecem construídos; resposta a comentários é algo fora de questão; blogroll entra na lista das incompreensões; nuvem de tags, como assim?;  feed RSS, widgets integradores com outras ferramentas e as APIs mais recentes estão fora de cogitação.

Ok! São muitas as exigências? Talvez, mas se todas essas funcionalidades não forem exploradas parece-me inadequado chamar a página de blog. Que se publiquem milhares de páginas, mas por favor, só vamos chamar de blog aquelas que  honrem o termo. Não tem problema chamar de website. a plataforma não condiciona a denominação.

2. A fetichização do blog

Blogs sempre fizeram sucesso. Daí que criar e alimentar um blog “passou” a ser símbolo de atualidade e contemporaneidade, algo como uma passagem para o mundo 2.0. Seria isso mesmo? As aspas no “passou” são propositais.

Hoje assistimos a uma onda:  o blog do presidente da empresa X, o blog do governo Y, o blog do candidato Z, o blog do Sr. N…..e assim vamos engordando a blogsfera, como se blogs fossem a solução para a presença no mundo 2.0.

Bem, é preciso ir para além da ferramenta e do fetiche. É preciso olhar para a efetividade de um blog. Primeiro, porque blog que é blog dá trabalho, toma tempo e exige envolvimento real do autor: escrever posts, responder aos comentários, manter atualidade e periodicidade, disseminar pelas redes e listas, inserir hiperlinks oportunos, pensar nas formas de ampliação do tráfego, entre outras atividades. Segundo, porque efetividade tem tudo a ver com repercussão, replicação, discussão: características inerentes a um conteúdo de interesse para os usuários/leitores. E, terceiro, porque o blog é apenas uma parte de um processo estruturado, planejado e estratégico de atuação no mundo 2.0.

Na verdade, o blog utilizado  em sua plena capacidade, por assim dizer, deve ser considerado como objeto social: uma ambiênica digital que agrega idéias e opiniões compartilhadas, discutidas e ampliadas por um conjunto de pessoas com um interesse comum, utilizando para isso uma diversidade de ferramentas, funcionalidades e micro-sistemas que facilitam, dinamizame ampliam o processo como um todo. Apenas isso.

E o seu blog, é blog? what-is-a-blog

(Beth Saad)

Redes Sociais e o príncipe eletrônico. Nirvana?

(Caríssimos leitores, perdoem pela longa digressão conceitual neste Intermezzo!)

MaquiavelNiccolò Macchiavelli talvez tenha, por fim, consubstanciado seu herdeiro: os usuários das redes sociais, ou no dizer do saudoso Professor Octávio Ianni, o príncipe eletrônico

Ainda sob os efeitos dos debates ocorridos no Digital Age 2.0 2008, busquei entender um pouco melhor a força do usuário conectado no direcionamento da web. Estaríamos diante de um movimento social de ruptura que merece contextualizações?
Retomo aqui um texto que apresentei quando a ECA-USP fez uma homenagem no passamento do Prof. Ianni em 2004, e a mim coube comentar o seu lado mais contemporâneo, e suas visões sobre o mundo globalizado, a partir de seu texto O Príncipe Eletrônico.

Remixo partes desse texto, considerando que em diferentes momentos históricos de ruptura sempre houve uma presença principesca catalisadora com capacidade de transformação dos paradigmas social, político e econômico vigentes.

O príncipe renascentista de Maquiavel, representado por uma pessoa real, era um líder capaz de conciliar sua virtú (liderança), com a fortuna (as condições sócio-políticas). Claro que tivesse, ele, Maquiavel, por consiglere

Já no Moderno Príncipe de Gramsci, a representação principesca concentra-se no partido político como a entidade social “empenhada em expressar as inquietações dos seus seguidores, mas simultaneamente capaz de interpretar as inquietações e reivindicações dos outros setores da sociedade”. O moderno príncipe traz a ruptura da luta de classes pela soberania e pelo poder; traz a ruptura do socialismo e, consequentemente, a ruptura da radicalização das elites.

Inspirado em Maquiavel e Gramsci, Octávio Ianni nos apresenta o Príncipe Eletrônico como uma possível representação de uma vigente ruptura histórico-social que ultrapassa os limites da política e instala-se nos âmbitos do indivíduo e também da identidade coletiva.

Representação muito compatível àquela das redes sociais recheadas de usuários interagentes.

O Príncipe Eletrônico não é uma pessoa real e nem uma entidade dominante. Mas é constituído de pessoas reais que transitam uma entidade virtual – a rede. E, o que mantém este príncipe vivo e ativo?

  1. Uma permanente atração pela mudança e ruptura;
  2. As possibilidades de experimentação de novos estilos de pensamento baseados na linguagem como um meio de conexão e diálogo;
  3. O estimulo criativo e inventivo de uma era que, embora tecnológica, é alimentada pelas ciências sociais, filosofia e artes que assumem o papel de descobrir ou inventar novos horizontes;
  4. A sabedoria na a utilização dos meios de comunicação (fruto da produção científica) como uma técnica social cuja linguagem (fruto da produção social) tem o poder da ambigüidade entre revelação e manipulação;
  5. Uma onipresença principesca representada pela multiplicação dos espaços e aceleração dos tempos em todas as direções, em todas as esferas de atividades e de imaginação;
  6. O surgimento de um espaço exclusivo para sua ação principesca: o ciberespaço.

 

    

Que acham desta representação para o Príncipe Eletrônico?

 

Podemos dizer que a humanidade, em plena era 2.0 convive com os três príncipes em diferentes situações. Mas, é bom lembrar que o Príncipe Eletrônico, mesmo com seu caráter supra-individuo e supra-entidade, não pode ser considerado a solução apaziguadora para uma sociedade harmônica.
As redes sociais, apesar de todos os bons fluidos que as cercam, também precisam ser vistas aos olhos premonitórios de cientistas sociais de peso com foi Ianni.

Se as redes sociais representam o Príncipe Eletrônico, então é bom considerarmos seu atributo que deixa virtú, fortuna e o partido político em segundo plano: elas beneficiam-se amplamente dos recursos tecnológicos digitais, colocando sob o seu controle os recursos narrativos que permitem tanto registrar e divulgar como enfatizar e esquecer, ou relembrar e enervar. Tal contexto faz com que as possibilidades de consciência se descolem contínua e reiteradamente da realidade, da experiência ou da existência.

Voltamos à eternas dualidades do ciberespaço: real vs virtual; simulação vs. simulacro….

 

(Beth Saad)

Digital Age 2.0: o reinado do usuário, reflexões a partir de Lessig, Seth Godin, Danah Boyd e mais


Neste começo de outubro, estivemos (eu, Daniela, e a professora Beth Saad, co-autora deste blog) no Digital Age 2.0. Foram dois dias intensos de palestras e debates sobre comunicação digital.

A conferência tinha como principal objetivo discutir e entender o futuro dos negócios tendo a Internet como plataforma de relacionamento.

As apresentações mais esperadas eram de Lawrence Lessig, Seth Goldin e Danah Boyd para abordarem, respectivamente, questões de direitos autorais, marketing online e redes sociais.

Participamos do encontro à convite da organização do evento. Outros blogueiros também foram convidados e, como nós, compareceram por lá como imprensa. O que foi bem bacana. Os colegas deixaram no Twitter interessantes registros sobre o evento.

Quem acompanha Alex Primo, Pedro Markun, André Deak, Renato Targa, Juliano Spyer, Ricardo Cabianca, Tiago Doria, Cris Dias, entre outros, pôde conferir estes apontamentos online. Também twitei, mas foi de leve, a Beth Saad acabou micro-blogando mais.

A despeito dos apontamentos que já foram registrados ao longo do evento, e também dos vídeos online, eu e Beth gostaríamos de consolidar algumas impressões e reflexões aqui no Intermezzo sobre o que foi dito por diversos especialistas e gurus durante a conferência. Acreditamos que isso será útil sobretudo aos que não puderam comparecer ao evento e que nos perguntaram: O que puderam apreender do Digital Age 2.0? Como este é um post elaborado a quatro mãos, a partir de agora escreveremos no plural. Vamos lá!

  • O USUÁRIO É O REI

Se pudéssemos resumir o discurso da conferência em apenas uma frase, teríamos: “Curve-se à logica digital“. O que, em outras palavras, significa render-se ao poder do usuário. Todo o evento — e notemos que foi um encontro para pessoas de negócios: estrategistas de mídia, gerentes de produtos, anunciantes, marketeiros, publicitários e afins — girou em torno deste discurso: o usuário é quem manda, não você.

Diversos especialistas insistiram nesta idéia: se você quiser vender, anunciar, publicitar, comunicar, conversar e convencer a sua “audiência” e o se “consumidor” trate de entrar rapidinho na lógica do usuário.

O tom da conferência foi que o usuário não está nem aí para empresas, mídia tradicional, direitos autorais, nada. Ele sacou que tem o poder de blogar, twitar, conversar, criar suas redes; fazer seus vídeos e podcasts; interferir, questionar, reclamar, criticar, parodiar. 

Juntos, formam sistemas auto-organizáveis. Sem você, sem a sua ajuda, sem a sua permissão. E sem pagar por isso.

Voltando dez anos para trás no mundinho dos pundits da web, é bom lembrar que a palavra de ordem era “the content is the king”. Ficou tudo na palavra, já que a ordem não foi seguida por quem era de direito. A banda passou. Hoje, o rei é o usuário. Concordamos. Reinando absoluto, independente e autônomo na rede. Quem quiser (empresas, mídia, operadoras de celular, produtores etc.) que corra atrás deste trio elétrico. Senão, já era.

Se você não entrar nesta lógica,
você será o ´estranhinho` da turma

Danah Boyd.

  • QUE LÓGICA É ESSA?

O que de fato as pessoas fazem em redes sociais? “Nada”, disse Danah Boyd, complementando, “Estão conversando, brincando, fortalecendo as amizades, se reafirmando como indivíduos”. Danah comentou que as pessoas entram em redes para encontrarem quem já conhecem. Eventualmente, fazem novas amizades. Mas, fundamentalmente, as redes servem para fortalecer relacionamentos que se já iniciaram fora dela.

A rede funciona pela persistência (as pessoas deixam registrado em “scraps” e “testimonials” o quanto gostam da outra, por exemplo), replicabilidade e escala (isso se pulveriza em outras redes) e também por busca (“searchability”).

Aliás, ficou claro que é pelas redes que se dá boa parte da inclusão digital da qual tanto falamos. As classes C e D estão sendo introduzidas ao mundo digital via redes como o Orkut, como mencionado na mesa moderada por Marcelo Coutinho, diretor do IBOPE Inteligência.

Todos querem atenção. E quem define esta dinâmica são os próprios usuários. O controle está nas mãos deles. Sobre esta questão do poder e controle, vale a pena consultar também o novo livro de Ronaldo Lemos, “Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música“, lançado durante a conferência e já disponível gratuitamente para download.

O fã precisa da banda para definir
a sua identidade para os amigos.
A banda precisa do fã para aumentar
a sua popularidade.
É assim que o MySpace cresce

Danah Boyd.

  • ISSO É MAU? NÃO, É REMIX.

Remix parece ser uma das palavras-chave da experiência 2.0. A (super profissional) palestra de abertura com Lawrence Lessig, o criador do Creative Commons, derrubou as fronteiras da propriedade intelectual, da autoria individual, pregando a necessidade de uma revisão mundial da legislação na área já que a essência da geração de conteúdo 2.0 baseia-se na remixagem de conteúdos disponíveis na própria rede, por meio de ferramentas e aplicativos também ali disponíveis.

Assim, Lessig tenta nos convencer de duas necessidades: primeiro, é preciso adequar as leis de autoria à realidade do mundo digital (nenhuma grande novidade aí). E, em segundo lugar, e aqui está o ponto mais interessante, é que as empresas precisam entender que é bom que os usuários remixem produtos, conteúdos e idéias. Porque o remixagem agrega valor ao produto.

A respeito deste valor, Lessig e Seth Goldin dialogam em concordância. Lessig acredita que os direitos autorais devam ser liberados (ainda que parcialmente), como já podemos fazer via CC. O remix deve ser formalmente permitido. “No mundo 2.0, não adianta gritar para as pessoas o que elas devem comprar. Elas não ouvem. É melhor construir junto”, alinha Seth.

Exemplos de remix? Vejam esta paródia da campanha da Dove no YouTube. Ou então o Bush Blair Endless Love.

“O seu produto é marketing
de si mesmo.
Quanto mais remix,
mais valor terá”
Seth Godin

  • ELOS FORTES E FRACOS

O DigitalAge2.0 2008 apresentou um conjunto de temas que refletiu a atual cadeia de valor da mídia social ou da web 2.0. Um interessante resultado final do evento, analisando as palestras e mesas de debates, foi uma visão dos elos fortes e dos fracos dessa cadeia. Sendo o mundo corporativo tradicional o elo mais fragilizado. Ao contrário dos usuários da rede, especialmente aqueles engajados em websites de redes sociais.

Será que isso ficou claro para as empresas? Parece que não totalmente. Exemplo: no debate sobre vídeos vimos o representante da Globo.com ainda referenciando o usuário como “consumidor” e o produto-vídeo como uma narrativa linear para “a massa” e sem ou pouco valor quando produzido de forma amadora (fora de âmbitos profissionais).

Mas também vimos produtoras como a Colméia (Enxame.tv) com uma proposta inovadora e mais afinada com o mundo digital. “Fazemos experiências interativas (de marca ou não) para distribuir histórias. Para construir relacionamentos. Para divertir e entreter. Quando necessário, criamos aplicativos, remixamos ou desenvolvemos tecnologia para isso”, disse Eduardo Camargo, sócio e produtor executivo da empresa.

Reparem no slogan da empresa: “enxame não é um lugar, é um movimento”.

Houve também os exemplos de negócios hiper-diferenciados como a Camiseteria que produz e vende camisetas a partir da contribuição de designers que postam seus modelos no site e os têm cotados e avaliados pelos usuários-compradores. E que, no mais, criou a sua Twiteria. Lá, os usuários elogiam e criticam publicamente o negócio.

“Gilberto Gil faz a celebração
do remix no Brasil”
Lawrence Lessig

  • O RESUMO DA ÓPERA?

O movimento da mídia social não é uma onda passageira, não é uma nova bolha. Grande chance de ser irreversível.

(Beth Saad e Daniela Bertocchi).