Corrêa, Elizabeth Saad & BERTOCCHI, Daniela.O papel do comunicador num cenário de curadoria algorítmica de informação. In: Saad, Beth. (Org.). Curadoria Digital e o Campo da Comunicação. 1ed.São Paulo: ECA-USP, 2012, v. , p. 22-39.
Título: Curadoria Digital e o Campo da Comunicação Organizador: Elizabeth Nicolau Saad Correa Edição: 1 Ano de Edição: 2012 Local de Edição: SÃO PAULO Tipo de Suporte: E-BOOK Formato: PDF Páginas: 79 Editora: ECA – USP Autores: Adriana Amaral, Carolina Frazon Terra, Daniela Bertocchi, Daniela Osvald Ramos, Elizabeth Saad Corrêa, Heitor Ferraz, Tarcízio Silva SUMÁRIO
Apresentação
Anotações para a compreensão da atividade do “Curador de Informação Digital”, por Daniela Osvald Ramos
O papel do comunicador num cenário de curadoria algorítmica de informação, por Elizabeth Saad Corrêa e Daniela Bertocchi
Curadoria de informação e conteúdo na web: uma abordagem cultural, por Adriana Amaral
Usuário-mídia: o curador das mídias sociais?, por Carolina Frazon Terra
Curadoria, mídias sociais e redes profissionais: reflexões sobre a prática, por Tarcízio Silva
Da edição para a curadoria: o jornalista-curador na revista Samuel, Heitor Ferraz em entrevista para Daniela Osvald Ramos
O chavão “não se pode navegar em novos mares com mapas antigos” talvez caiba na abertura desse post. Com os fenômenos comunicacionais se reconfigurando sob a mediação das mídias digitais e das redes sociais os métodos tradicionais de pesquisa talvez não sejam mais válidos ou não possam mais ser utilizados da maneira usual.
As técnicas de etnografia continuam válidas ao analisarmos redes complexas como Facebook ou Twitter? Pensando nisso, reproduzo aqui uma pequena bibliografia copilada pela professora Maria Immacolata Vassalo de Lopes sobre webmétodos; são autores que buscam justamente uma nova metodologia da pesquisa em comunicação levando em conta as mudanças que o digital trouxe para esse campo do conhecimento. Por isso eu prefiro o termo digimétodos. Afinal, eles são válidos não só para a análise do ambiente web, mas também para outros cenários digitais, como o do celular e dos videogames:
Aproveitando a passagem do professor de Navarra José Luis Orihuela por São Paulo, acontece na próxima quinta (27/8/2009) o Beers & Blogs São Paulo, um encontro informal para discutirmos e trocarmos experiências sobre o uso de blogs, twitters e novas tecnologias na comunicação.
Esse post surge na sequência da palestra que fiz no Fórum de Mídias Sociais, em 14/07/2009, em Brasília. O evento foi organizado pela SECOM – Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Pelo título já podem inferir minhas impressões iniciais: ainda faltam muitos passos no percurso digital; ainda é preciso entender e se posicionar na web 1.0 prá depois se encantarem com blogs, campanhas tipo Obama e similares; ainda bem que prestaram atenção no tema.
Tentando resumir toda a cena:
Encontrei ali alguns poucos núcleos de percepção e uso contemporâneo da web e das redes sociais, a exemplo do Ministério da Cultura, com uma interessante equipe envolvida e atualizada e com uma política de Cultura Digital definida e com um projeto de ação no mundo das redes; também o Ministério da Saúde, utilizando a web na linha de prestação de serviços e esclarecimento à população, em formato muito oportuno; a própria SECOM buscando construir o novo Portal e lançando a versão beta do Blog do Planalto, com um sério esforço em compor uma equipe jovem e atualizada, mas com uma boa dose de limitações estruturais e, especialmente, culturais e políticas diante da perspectiva de diálogo em rede.
Primeira visualização oficial do Blog do Planalto
Encontrei ali, também, uma platéia lotada (precisou colocar telão no saguão do auditório), constituída de assessores de comunicação dos diferentes órgãos governamentais. Uma platéia que me passou a sensação de que eu “falava grego” mas, que esse grego era o que todos deveriam ter aprendido, mas perderam o bonde e, agora, a sociedade lhes cobra atualização.
Encontrei ali núcleos de resitência diante do novo. Normal em qualquer processo de inovação tecnológica paradigmático. Resistência um tanto agravada quando falamos de Governo, onde os profissionais estão mais preocupados em buscar a PortariaX que vai respaldar sua ação de comunicação tradicional e possibilitar, por exemplo, processar por falsidade ideológica o usuário que copia e cola material do site. (Por favor, não generalizem essa visão).
E a comunicação de governo no mundo digital, como fica?
Em meio à cena descrita essa foi a pergunta inevitável. Da mesma forma que o colega Emerson Luís, assessor de comunicação da Dataprev e uma das poucas “luzes” ali presentes, descreve o evento em seu blog e relata como o tema mídias sociais deixou todos atônitos, eu fiquei pessoalmente atônita com a falta de uma real política de comunicação do governo para o mundo digital. Afinal, o que o governo e suas diversas entidades quer dizer para os 62 milhões de internautas brasileiros? Sob qual imagem e identidade de marca? Qual o branding e a reputação digital que sustentam a presença do “.gov.br” na rede? Qual o plano de comunicação digital, respectivas ferramentas, plataformas e narrativas?
Fica um tanto difícil responder a essas indagações quando vi ali o próprio ministro da SECOM dizer alto e em bom som na abertura do evento o discurso que corre em uníssono por entre os jornalistas de velha cêpa (acho que todos combinaram entre si): o público quer, precisa e não conhece outra forma de ser informado a não ser pela fórmula de notícias 24×7, preferencialmente apresentadas por um jornal impresso e, sempre editadas (já que o público precisa da edição para entender o mundo…). Em tempo: de forma alguma nego ou rejeito o bom e velho jornalismo (sou eterna leitora de meu Estadão impresso todas as manhãs). Ocorre que esse formato hoje não é único e nem hegemônico. Existem outras formas e fontes de informação (as digitais, as sociais) que entram na cesta de escolhas informativas de todos nós. É preciso saber conviver com a diversidade.
Permanece a dificuldade em responder às tais indgações básicas quando vemos a proposta do Blog do Planalto. A visualização de conteúdo apresentada explicitou, de cara, material editado e com narrativa piramidal do meio impresso. E aquelas ferramentas mínimas de um blog? O uso de hiperlinks? Uma nuvem de tags? (até tinha, a nuvem de assuntos, mas escondida ao final da terceira tela de rolagem) Posts mais populares? Enfim, coisas básicas para um blog que já na concepção definiu a não aceitação de comentários (OK, questionável, mas aceitável diante da responsabilidade da empreitada). Ficou a percepção de que era preciso ter um blog como passaporte para o mundo contemporâneo da rede. Mas, qual a sua política editorial? Em tempo: é pública a escolha, por meio de edital da SECOM, de uma empresa que é responsável pela execução do Portal do Governo e por sua comunicação digital. Estão trabalhando, aguardemos. Mais em tempo: é visível a seriedade da equipe da SECOM sobre o tema.
Rumos e possibilidades
Minha postura no mundo é de otimismo. Em qualquer situação.
Evidente que em termos de mundo das redes não é possível correr atrás do prejuízo. E, no caso da comunicação digital de governo no país o déficit é grande: há que se mudar a cultura em todos os níveis; há que se melhorar primeiro as ações 1.0, já que muitos websites, portais estão aquém do estado-da-arte; há que se evangelizar (e treinar explícitamente) pessoas, funcionários, assessores, colaboradores; há que se entrar no ritmo digital.
Não serão blogs soltos no ciberespaço que resolverão um processo muito mais amplo. O potencial comunicativo de governos na rede é imenso. No exterior existemorganismos profissionais que estudam, analisam e aconselham ações de governos digitais. No Brasil também existem iniciativas, ainda tímidas.
Se não é possível correr atrás do prejuízo o melhor é queimar etapas e tomar o bonde num ponto mais adiante.
(Beth Saad)
PS: para saber um pouco mais do que rolou no eveno vejam a #prmidias no twitter.