O mais novo buzz: morte da blogsfera (???)

O Estadão de hoje (24/08/09), em seu caderno Link, dedica várias páginas ao tema blogsfera e sua possível “morte”. Destacam-se a matéria sobre o blog do Planalto, a entrevista de Steve Rubel, analista e consultor web norte-americano e autor do blog Micropersuasion;  e a coluna de Pedro Dória. Os dois comentaristas, de uma maneira ou de outra, preconizam não mais escrever em blogs, seja pela falta de tempo, seja pelo esgotamento da ferramenta. E o blog do Planalto aparece como algo um tanto defasado do contexto atual, tema já discutido aqui, à exaustão. (no momento em que escrevo esse post o Link ainda não tinha atualizado todas as matérias da edição de 24/08/09).dmorte_blogsfera

Ao que parece, mais uma vez temos um conteúdo chamativo, midiático, mas com pouca sustentação de base analítica. Mais um buzz pinçado na onda das mídias sociais.

Deixo aqui meu depoimento como blogueira desse Intermezzo, usuária das mídias sociais e analista.

Até um passado recentíssimo – prá não dizer do próprio presente – o foco das discussões sobre mídias sociais era como integrar todas as ferramentas e possibilidades dos diálogos e conversações às propostas do que chamamos “mídias tradicionais” na web. A questão da participação e da expressão do usuário protagoniza as decisões de gestores de portais, editores de marcas jornalísticas, entre outros. Como integrar? Como estar presente no Twitter? Ter uma página do Facebook? São temas cotidianos ainda não solucionados.

Surge agora um novo foco: a integração dentro do próprio âmbito das mídias sociais.

O termo complementariedade é fundamental. Cada uma das ferramentas  – blog, twitter, facebook, por exemplo, possuem características próprias de estilo narrativo e forma de relacionamento com os leitores/usuários/seguidores. O que postamos num blog, bastante opinativo e correlacional, pode ser condensado em 140 caracteres para o twitter, que prima pela objetividade informativa e multiplicação de idéias, e pode ser propagado num facebook por meio de um convite para a rede de amigos à leitura  e comentários do post.

A experiência nesse Intermezzo tem sido nosso campo de provas sobre tal proposição. Percebemos, cada vez mais, que nossa audiência a cada post vem direcionada pelas nossas micro-postagens nas redes sociais; e que em médio e longo prazo a audiência para o blog em geral e seu conteúdo passado vem das ferramentas de busca. Os comentários, quase sempre canalizados nas redes sociais. Nada mais complementar! e, por outro lado, nada mais trabalhoso! Estar na rede, hoje, se confiigura cada vez mais numa ação de envolvimento e engajamento contínuos.

Com isso, não parece adequada a afirmação sobre a morte da blogsfera. O que temos, claramente, é uma reconfiguração de objetivos, aonde o blog se identifica com o website de destino do usuário para aprofundamento da informação e conhecimento mais amplo da opinião autoral; o twitter como a “plataforma de embarque” dos usuários da rede num dado tipo de conteúdo; e o Facebook e similares, como plataforma de diálogo e conversação complementar aos comentários postados no próprio blog – quase uma Ágora contemporânea.

Para quem está nesse mundo conectado por paixão e/ou profissão, só nos resta torcer pelo surgimento de plataformas integradoras (já existem várias) que juntem blog, twitter, redes sociais num mesmo espaço de operação e controle.  Ou seguir a recomendação de Steve Rubel e adentrar ao Lifestreamming. Só vejo muito trabalho pela frente.

(Beth Saad)

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Ainda sobre blogs …mas, para que servem mesmo?

2006042700_the_blog_345Na esteira do buzz sobre o Fatos e Dados, da Petrobrás tive acesso a um interessante conjunto de opiniões e posições das mais diversas fontes – jornalistas, pesquisadores, profissionais de mercado, curiosos, entre outros. Disso tudo ficou muito claro que o calor das discussões acaba por deixar de lado a essência do tema: o uso do blog como uma ferramenta de mídia social.

Pelo lado dos jornalistas e das empresas jornalísticas a discussão ficou centrada na relação fonte-veículo e também no uso do blog como mídia. Os profissionais de comunicação tinham por foco a quebra do paradigma da mediação e a possibilidade concreta de uso das ferramentas de mídia social para isso, mas com uma sucessão de dúvidas sobre como e para que. Pesquisadores e a academia mantiveram-se à distância, como usual. Usuários e blogueiros, no mínimo, fizeram a festa. Tais opiniões refletem a diversidade de compreensão dobre o que na realidade são e para que servem os blogs.

Claro que não vou aqui nesse Intermezzo discorrer sobre as origens do blog nos diários pessoais,  sobre a quantidade de autores que discutem cientificamente o  tema (sim, blogs há tempos são objeto de pesquisa!) ou sobre seu uso nos mais diferentes campos de atividade. Existem muitas fontes para isso na própria web, prá começar. Gostaria, de indicar dois pontos-chave que condicionam o uso (adequado ou não) do blog em nossa rotina comunicacional:

1. A confusão entre plataforma de publicação e ferramenta de mídia social

Desde suas origens o blog  trouxe uma característica muito atraente para qualquer usuário da web: a possibilidade de publicar e estar presente na grande rede, gratuitamente e sem esforços técnicos de especialista. Com isso, plataformas como WordPress e Blogger possibilitaram a existência dos 133 milhões de blogs registrados, segundo o último relatório sobre a Blogsfera do Techoratti. Com isso, surgem em ritmo de pãozinho quente os mais diversos tipos de propostas de conteúdo utilizando esse caminho rápido e fácil de publicação, confundindo o uso social da  ferramenta com uma forma de construir um website. O que temos, em muitos e muitos blogs, são o que chamo de blogsites: uma página na web, que pouco explora as características oferecidas pela plataforma que configurariam o blog como uma mídia social.

Com isso, os posts acabam se transformando em longos textos com tom de press release ou de discurso individualista; comentários inexistem ou parecem construídos; resposta a comentários é algo fora de questão; blogroll entra na lista das incompreensões; nuvem de tags, como assim?;  feed RSS, widgets integradores com outras ferramentas e as APIs mais recentes estão fora de cogitação.

Ok! São muitas as exigências? Talvez, mas se todas essas funcionalidades não forem exploradas parece-me inadequado chamar a página de blog. Que se publiquem milhares de páginas, mas por favor, só vamos chamar de blog aquelas que  honrem o termo. Não tem problema chamar de website. a plataforma não condiciona a denominação.

2. A fetichização do blog

Blogs sempre fizeram sucesso. Daí que criar e alimentar um blog “passou” a ser símbolo de atualidade e contemporaneidade, algo como uma passagem para o mundo 2.0. Seria isso mesmo? As aspas no “passou” são propositais.

Hoje assistimos a uma onda:  o blog do presidente da empresa X, o blog do governo Y, o blog do candidato Z, o blog do Sr. N…..e assim vamos engordando a blogsfera, como se blogs fossem a solução para a presença no mundo 2.0.

Bem, é preciso ir para além da ferramenta e do fetiche. É preciso olhar para a efetividade de um blog. Primeiro, porque blog que é blog dá trabalho, toma tempo e exige envolvimento real do autor: escrever posts, responder aos comentários, manter atualidade e periodicidade, disseminar pelas redes e listas, inserir hiperlinks oportunos, pensar nas formas de ampliação do tráfego, entre outras atividades. Segundo, porque efetividade tem tudo a ver com repercussão, replicação, discussão: características inerentes a um conteúdo de interesse para os usuários/leitores. E, terceiro, porque o blog é apenas uma parte de um processo estruturado, planejado e estratégico de atuação no mundo 2.0.

Na verdade, o blog utilizado  em sua plena capacidade, por assim dizer, deve ser considerado como objeto social: uma ambiênica digital que agrega idéias e opiniões compartilhadas, discutidas e ampliadas por um conjunto de pessoas com um interesse comum, utilizando para isso uma diversidade de ferramentas, funcionalidades e micro-sistemas que facilitam, dinamizame ampliam o processo como um todo. Apenas isso.

E o seu blog, é blog? what-is-a-blog

(Beth Saad)

10 + 10 = você decide. Como usar as ferramentas de mídia social

Ao que tudo indica, as grandes organizações de mídia e mesmo empresas em geral antenadas nas inovações estão cada vez mais criando estratégias de relacionamento com seus públicos por meio das ferramentas de mídia social. Como usar, que estratégias adotar, como customizar ou individualizar o potencial da ferramenta para cada caso são itens que entram na pauta dos planos de comunicação.

O recente post deste Intermezzo sobre um novo tipo de uso de rede – a “protegida”- criada pelo Wall Street Journal indica tendência e é um exemplo. Outras empresas enveredam pelo mesmo caminho: o The New York Times acaba de lançar o Times People em parceria com o Facebook para agregar seus usuários cadastrados e estimular o compartilhamento entre eles. A MTV lança a Flux (tela abaixo), num conceito mais amplo do que uma rede de relacionamentos, criando o que eles chamam de “estratégia vertical de entretenimento” que inclui além da área de relacionamento para 7,5 milhões de usuários cadastrados 35 sites da MTV, 1000 publicadores independentes entre outros acessos a conteúdos.

 

Como a tendência é forte, em paralelo a essas iniciativas, vemos uma série de colunistas e entidades que listam em suas colunas e blogs a famosa receita norte-americana de “10 itens para….” sobre o uso de ferramentas de mídia social. Pessoalmente, não sou muito afeita a listas desse tipo pela limitação inerente. Mas, o próprio Technorati adota a fórmula em seu relatório State of the Blogsphere 2008, então selecionei duas listinhas a partir das quais comento. Vejam:

A colunista e blgueira do Advertising Age – B. L. Ochman – fez uma lista interessante dos 10 itens que justificam porque uma empresa não deve usar blogs. Cito Ochman porque compartilho da maioria de suas 10 proposições: o blog é uma manifestão pessoal e não uma voz coletiva de uma empresa; tem linguagem própria, portanto não é uma listagem de press-releases que divulgam, por exemplo, “a palavra do presidente”; o blog corporativo não substitui campanhas de marketing e promoção, a assessoria de comunicação entre outras. Portanto, o uso de blogs corporativos é apenas um item na estratégia de comunicação e presença digital de uma empresa. Não a panacéia de existência na rede.

Uma outra lista de 10 e mais itens interessantes também está no Advertising Age dando dicas de como usar o Facebook, o MySpace, o Twitter e o Linkedin para busca de empregos e desenvolvimento de carreira. Ocorre que a listinha ultrapassa a questão individual e oferece boas informações sobre como redes de pessoas são fonte e campo para uma atuação estratégica de comunicação. Esses tipos de redes, onde estão envolvidas diretamente pessoas, têm uma característica fundamental para funcionar: o uso da verdade. Informações falsas, identidades construídas, explosão de inofrmações e atualizações não denotam um perfil estratégico de uso deste tipo de rede social. Vale a leitura, especialmente em tempos atuais onde o Twitter, por exemplo, tem sido usado para espécies de “spams corporativos” de empresas que solicitam adição da pessoa à sua rede apenas para compor um grupo de interesse e uma mala direta grátis.

Busquem suas listas 10 + 10 + outros 10….. e criem seus próprios critérios de uso das ferramentas de mídia social.

(Beth Saad)

Mais sobre uso de mídias socias na cobertura política

A recente convenção do Partido Democrata dos Estados Unidos deu espaço à criatividade dos jornalistas ali crendenciados. O uso das mídias sociais digitalizadas, especialmente blogs, micro-blogs, plataformas para telefonia celular, podcasts e twitter foram destaque. Uma interessante matéria feita por Steve Myers, do Poynter Online nos dá uma visão de como estas ferramentas estão sendo utilizadas.

Mais do que a simples informação “o que você está fazendo agora?”, os profissionais usam o twitter para expressar sua visão dos fatos, comentar, opinar e, principalmente agregar expressões e opiniões de outros jornalistas que fazem parte de suas redes. Com isso, tem-se em mãos farto material para o desenvolvimento posterior de matérias, enriquecidas com novas idéias, visões dos participantes , etc.

Vemos, portanto, mais uma competência a ser adicionada no perfil do jornalista contemporâneo.  Tal sua importância que o National Press Club dos Estados Unidos oferecu em Julho passado um treinamento para seus associados sobre o uso de twitter em reportagens e coberturas. Por estas plagas, ainda estamos no estágio de termos que explicar o que é twitter a muitos mestres…

Complementando o tema, a última edição do Nieman Reports, da Universidade de Harvard, oferece uma lista de 20 artigos sobre uso de novas mídias e cobertura política. Material todo disponível online, bem útil para pesquisadores e interessados.

(Beth Saad)