Tendências para um mundo sociodigital

Descrever tudo o que aconteceu na Conferência Internacional de Redes Sociais, que aconteceu em Curitiba entre os dias 11 e 13 de março, é uma tarefa inglória. Afinal, um encontro que reuniu mais de 3 mil pessoas e 100 palestrantes – entre eles Steven Johnson, Clay Shirky e Pierre Lévy – só pode resultar em um turbilhão de ideias e tendências que busquei resumir nos tópicos a seguir:

Redes sociais e as cidades

Ao contrário do que se previa, a cada ano mais e mais pessoas estão deixando o campo e vivendo nas cidades. Em 2007, 3,3 bilhões de pessoas moravam em grandes centros; em 2050 estima-se que esse número chegue a 6,4 bilhões.

De acordo com Clay Shirky, “quanto maior e mais densa a concentração de pessoas mais precisaremos desenvolver ferramentas de comunicação e informação eficazes para ambientes populosos como as grandes cidades”. O autor do livro Here Comes Everybody relembra o sistema pneumático muito utilizado na comunicação dos primeiros arranha-céus para que as pessoas não precisassem mais subir ou descer dezenas de andares para se comunicarem uma com as outras. As redes sociais e a internet terão papel fundamental em aperfeiçoar a comunicação e potencializar a extração de inteligência das informações geradas pelos habitantes desses centros.

Steven Johnson concorda e complementa: “a internet é essencial principalmente às grandes cidades. Nas pequenas, as pessoas conseguem ter noção de tudo aquilo que ocorre em sua volta, do novo restaurante da rua principal à posse de um novo legislador. Já a proporção que algumas cidades tomaram fez com que seus moradores perdessem essa noção do todo e a internet e seus dados acabaram se tornando fundamentais para o melhor aproveitamento do espaço público.

Rede de coisas

O volume atual de dispositivos conectados à rede é estimado em 1 trilhão, principalmente por conta dos videogames e dos celulares. A recente queda da rede do Playstation 3 fez com que todos enxergassem uma promessa antiga: a internet não é mais formada apenas por computadores e sim por todo tipo de gadget fruto do processo de digitalização iniciado na década de 80.

Isso faz com que possamos estar em contato direto entre o mundo virtual e o mundo real e um dos grandes exemplos dessa integração é o FourSquare. Esse aplicativo para celulares cria uma rede social orgânica, pois novas conexões podem surgir em tempo real baseadas na localização de cada indivíduo.

Integração real x virtual

Casos famosos como a trilogia de vídeos de Dave Caroll contra a United Airlines utilizaram o poder da web para reverberar uma mensagem, porém não para mobilizar pessoas em torno dela. Esse movimento de aversão à companhia aérea acabou surgindo como “efeito colateral” da atitude do cantor, e não de forma planejada.

Entretanto, o fato de as pessoas estarem cada vez mais conectadas faz com que aumentem o número de iniciativas que utilizam as redes sociais virtuais para mobilizar grupos em torno de causas ou em prol de mudanças no mundo real de forma estruturada. Exemplos não faltaram durante os três dias de evento, como o PatientsLikeMe, SeeClickFix, MeetUp e o KickStarter.

 

Privacidade, excesso de informação e PKM

A presença em todas as redes sociais traz implicações como o excesso de exposição e a perda de privacidade. Porém, Steven Johnson relembra que isso não pode ser usado como argumento para abandoná-las. Pelo contrário, precisamos usufruir tudo isso que é oferecido por elas, mas sabendo preservar nossa intimidade. Steven sugere, inclusive, que isso seja ensinado nas escolas às crianças desde os primeiros anos.

As questões relacionadas ao indivíduo inserido nas redes sociais também foram assunto da fala de Pierre Lévy que abordou a gestão pessoal do conhecimento no último dia da conferência. O filósofo francês acredita que o “problema não está no excesso de informação e sim na ausência de critérios individuais de foco e de escolha de fontes confiáveis a seguir”. Para contornar esse problema, Lévy propõe um método composto de nove etapas, além do uso de processos e ferramentas de PKM (personal knowledge management):

  1. Gestão da atenção
  2. Conexão com fontes valiosas
  3. Agregar/Coletar fluxos de informação
  4. Filtragem
  5. Categorização
  6. Registro para memória de longo prazo
  7. Síntese
  8. Compartilhar/comunicar
  9. Reassess (retrofluxo do processo)

O saldo desta troca intensa de interações mostra que temos ainda um grande campo a ser explorado. A onipresença da tecnologia faz com que ela se entrelace às nossas vidas de uma maneira que praticamente não percebamos mais sua existência. Isso faz com que, finalmente, as atenções se voltem para o ponto de onde jamais deviam ter saído: as pessoas.

(Andre de Abreu)

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8 thoughts on “Tendências para um mundo sociodigital

  1. ótimo artigo André,

    Essa idéia do PKM de Pierre Levy é muito interessante e muito parecida com a estratégia que certas disciplinas (ITIL p.ex) usam em processos de gestão da TI de um negócio.

  2. Não pude ir ao evento, mas acompanhei pelas redes sociais a cobertura. Depois de quase um mês eu ainda pesquiso sobre o assunto porque acredito que a discussão foi realmente boa e melhor que a realizada no Campus Party!

    Parabéns pelo post! Realmente gostei do resumo. Sou Social Media e sempre é bom aprender com estes posts que encontro na blogosfera. 😉

    Parabéns pelo trabalho a todos que produzem os posts por aqui, vou voltar mais vezes.

    Hasta luego…

  3. Parabéns André!
    Uma síntese difícil de ser feita e vc conseguiu traduzir na prática o PKM.
    E que bom que feche lembrando o ponto que sempre embalou nossas conversas: as pessoas.
    Abs,
    Thais

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