Esse post surge na sequência da palestra que fiz no Fórum de Mídias Sociais, em 14/07/2009, em Brasília. O evento foi organizado pela SECOM – Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Pelo título já podem inferir minhas impressões iniciais: ainda faltam muitos passos no percurso digital; ainda é preciso entender e se posicionar na web 1.0 prá depois se encantarem com blogs, campanhas tipo Obama e similares; ainda bem que prestaram atenção no tema.
Tentando resumir toda a cena:
Encontrei ali alguns poucos núcleos de percepção e uso contemporâneo da web e das redes sociais, a exemplo do Ministério da Cultura, com uma interessante equipe envolvida e atualizada e com uma política de Cultura Digital definida e com um projeto de ação no mundo das redes; também o Ministério da Saúde, utilizando a web na linha de prestação de serviços e esclarecimento à população, em formato muito oportuno; a própria SECOM buscando construir o novo Portal e lançando a versão beta do Blog do Planalto, com um sério esforço em compor uma equipe jovem e atualizada, mas com uma boa dose de limitações estruturais e, especialmente, culturais e políticas diante da perspectiva de diálogo em rede.

Encontrei ali, também, uma platéia lotada (precisou colocar telão no saguão do auditório), constituída de assessores de comunicação dos diferentes órgãos governamentais. Uma platéia que me passou a sensação de que eu “falava grego” mas, que esse grego era o que todos deveriam ter aprendido, mas perderam o bonde e, agora, a sociedade lhes cobra atualização.
Encontrei ali núcleos de resitência diante do novo. Normal em qualquer processo de inovação tecnológica paradigmático. Resistência um tanto agravada quando falamos de Governo, onde os profissionais estão mais preocupados em buscar a PortariaX que vai respaldar sua ação de comunicação tradicional e possibilitar, por exemplo, processar por falsidade ideológica o usuário que copia e cola material do site. (Por favor, não generalizem essa visão).
E a comunicação de governo no mundo digital, como fica?
Em meio à cena descrita essa foi a pergunta inevitável. Da mesma forma que o colega Emerson Luís, assessor de comunicação da Dataprev e uma das poucas “luzes” ali presentes, descreve o evento em seu blog e relata como o tema mídias sociais deixou todos atônitos, eu fiquei pessoalmente atônita com a falta de uma real política de comunicação do governo para o mundo digital. Afinal, o que o governo e suas diversas entidades quer dizer para os 62 milhões de internautas brasileiros? Sob qual imagem e identidade de marca? Qual o branding e a reputação digital que sustentam a presença do “.gov.br” na rede? Qual o plano de comunicação digital, respectivas ferramentas, plataformas e narrativas?
Fica um tanto difícil responder a essas indagações quando vi ali o próprio ministro da SECOM dizer alto e em bom som na abertura do evento o discurso que corre em uníssono por entre os jornalistas de velha cêpa (acho que todos combinaram entre si): o público quer, precisa e não conhece outra forma de ser informado a não ser pela fórmula de notícias 24×7, preferencialmente apresentadas por um jornal impresso e, sempre editadas (já que o público precisa da edição para entender o mundo…). Em tempo: de forma alguma nego ou rejeito o bom e velho jornalismo (sou eterna leitora de meu Estadão impresso todas as manhãs). Ocorre que esse formato hoje não é único e nem hegemônico. Existem outras formas e fontes de informação (as digitais, as sociais) que entram na cesta de escolhas informativas de todos nós. É preciso saber conviver com a diversidade.
Permanece a dificuldade em responder às tais indgações básicas quando vemos a proposta do Blog do Planalto. A visualização de conteúdo apresentada explicitou, de cara, material editado e com narrativa piramidal do meio impresso. E aquelas ferramentas mínimas de um blog? O uso de hiperlinks? Uma nuvem de tags? (até tinha, a nuvem de assuntos, mas escondida ao final da terceira tela de rolagem) Posts mais populares? Enfim, coisas básicas para um blog que já na concepção definiu a não aceitação de comentários (OK, questionável, mas aceitável diante da responsabilidade da empreitada). Ficou a percepção de que era preciso ter um blog como passaporte para o mundo contemporâneo da rede. Mas, qual a sua política editorial? Em tempo: é pública a escolha, por meio de edital da SECOM, de uma empresa que é responsável pela execução do Portal do Governo e por sua comunicação digital. Estão trabalhando, aguardemos. Mais em tempo: é visível a seriedade da equipe da SECOM sobre o tema.
Rumos e possibilidades
Minha postura no mundo é de otimismo. Em qualquer situação.
Evidente que em termos de mundo das redes não é possível correr atrás do prejuízo. E, no caso da comunicação digital de governo no país o déficit é grande: há que se mudar a cultura em todos os níveis; há que se melhorar primeiro as ações 1.0, já que muitos websites, portais estão aquém do estado-da-arte; há que se evangelizar (e treinar explícitamente) pessoas, funcionários, assessores, colaboradores; há que se entrar no ritmo digital.
Não serão blogs soltos no ciberespaço que resolverão um processo muito mais amplo. O potencial comunicativo de governos na rede é imenso. No exterior existem organismos profissionais que estudam, analisam e aconselham ações de governos digitais. No Brasil também existem iniciativas, ainda tímidas.
Se não é possível correr atrás do prejuízo o melhor é queimar etapas e tomar o bonde num ponto mais adiante.
(Beth Saad)
PS: para saber um pouco mais do que rolou no eveno vejam a #prmidias no twitter.
Beth,
Para que as redes funcionem no governo é preciso antes de tudo que entendam que elas não são mais uma forma de spam.
E depois, compreender que para que mídias sociais funcionem é preciso que os seus funcionários e colaboradores tenham acesso a ela.
Isso quer dizer… DESBLOQUEIO JÁ!
Não para entender que o Min. Cultura tem Twitter e seus funcionários não tenham acesso a ele.
Poisé patrícia!. Até entendo as dificuldades de liberação de rede e servidor. Mas existem caminhos paralelos, lap tops drive de acesso3G, etc. É questcào de postura e vontade.
Muito bom o post. Estava ansioso para ler essas impressões… repliquei lá no blog. Beijo aí, Beth!
thanks Rogério!
Oi Beth!!! Gostei muito desse post, asisno seu blog há duas semanas e não me arrependo! rs! é ótimo!
Acredito que esse quadro reflete um pouco do que será a próxima campanha eleitoral com o uso das redes sociais e mídias digitais.
Os assessores não estão preparados, os políticos menos ainda e quem for mais esperto conseguirá maior projeção.
Minha opinião é que de fato, não custa absolutamente nada se inteirar do que há de novo. Quebrar antigos paradigmas é a mais nova obrigação do profissional de comunicação.
Continuo lendo aqui!
Abraços!
Olá Beth!
É verdade que você iria disponibilizar o seu power point apresentado no evento da Secom? Aonde posso baixá-lo? Sou do Rio e não pude ir a Brasília assistir ao seminário.
Sou jornalista da Embrapa há 10 anos e agora estou fazendo mestrado justamente sobre o que eu chamo de “comunicação empresarial 2.0” e achei muito interessantes as suas considerações sobre o comunicação corporativa em redes sociais. No entanto, estou tendo dificuldades na parte de referencial teórico (ainda não fiz minha qualificação, comecei meu mestrado em março deste ano), pois o assunto é muito novo. Você tem como me ajudar?
Um abraço,
Estava lá como pesquisador do assunto E técnico de comunicação do BNDES e achei o evento todo muito bom. A palestra da Beth despertou muitos insights, assim como as iniciativas da Cultura e da Saúde mostraram que, sim, o governo pode ter participação inteligente, proativa e cidadã na rede. Também senti, pelo burburinho, a desconfiança na plateia quanto a algumas questões, mas acho que tudo tem a ver com a “cultura do segredo” em que está imersa a administração pública, com suas diretrizes do tipo “quem tem informação tem poder” e “não vamos falar tudo pra não encherem o saco”. Há também problemas estruturais (e o blog do Planalto revelou isso), mas que precisam ser resolvidos, mesmo que leve tempo, pois dispensar equipes enxutas para o trabalho de comunicação na web significa que esta ação nas mídias sociais NÃO é estrategicamente relevante. Não se fala em abrir mão da comunicação por meio da imprensa tradicional, que ainda atinge a massa. Fala-se, sim, em conversar com os indivíduos nessa mídia pulverizada composta pelas redes sociais. O contrário disso é assumir o atraso e perder uma ótima oportunidade de reforçar a marca, ser proativo com o cidadão e obter informações preciosas para a formulação de novas políticas públicas. Em breve, publico artigo com as minhas impressões.
tentei acompanhar no twitter pela tag #prmidias mas não foi encontrado. mudou de tag? foi cancelada ou tirada do ar?
muito bom post ! acompanho o Intermezzo e pesquiso sobre o uso do governo em midias sociais.
beth , sempre que possivel, contribua com mais posts sobre o assunto! obrigada !
Um amigo me recomendou o post. Colocou no Twitter.
Vcs iriam achar interessante o que ele é capaz de fazer de Santarém (PA) a partir do site http://lgcorporativo.com/, do twitter e do Flickr.
Achei muiito oportuna a sua análise. Eu mesma tropecei um bocado para convencer gestores! É incrível!
Beth.
Muito obrigado por nos trazer tanto conteúdo. Sua análise é muito boa. Eu estou com você. Nossa postura deve ser de otimismo, em qualquer situação. O que mais me incomoda no Blog do Planalto é a perspectiva de comunicação unidirecional. Quando uma uma empresa ou entidade lança um blog, significa que ela está pronta para dialogar. Ainda mais o governo, que deve sempre procurar e criar meios de diálogo com a sociedade. Quando você diz que o blog do Planalto não aceitará comentários, a mensagem é muito negativa. Não acho legal lançar o blog para só postar coisas e não conversar com os visitantes. Mas, enfim, a decisão de lançar o blog é positiva e a sociedade deve incentivar isso. Abraços. Mauro Segura. http://www.aquintaonda.blogspot.com.