Ressucitando os dinossauros

Acabo de ler um post do professor Jeff Jarvis em seu blog Buzz Machine que me levou a dividr com vocês algumas reflexões que tive logo após o debate que mediei no lançamento do livro O Destino do Jornal, já divulgado neste Intermezzo.

Jarvis comenta sobre uma recente campanha da WAN – Associação Mundial de Jornais na defesa do meio impresso como o último baluarte de preservação do jornalismo. A foto é muito ilustrativa e os comentários de Jarvis no mínimo sarcásticos…. A partir deles retomo o debate realizado sobre o destino do jornal no Brasil, no último dia 30 de julho. Como diz o anúncio da WAN, você leitor só terá o trabalho de folhear as páginas do jornai impresso, pois, a pesquisa já foi feita pelos doutos senhores da redação. Da mesma forma , como disseram no debate Rodolfo Fernandes, Diretor de Reração de O Globo e Ricardo Gandour, Diretor de Conteúdo do Grupo Estado, o leitor hoje necessita de uma informação “agrupada num ciclo de 24 horas” e “organizada visual e sistematicamente” para que possa estar informado. 

Pequeno mundo de paradoxos!

A WAN faz este tipo de campanha ao mesmo tempo que tem seu recente Congresso realizado em Gotemburgo, Suécia totalmente voltado para a questão dos meios digitais e lança o o relatório Trends in Newsrooms 2008 com preciosos artigos sobre convergência e o novo perfil profissional para os jornalistas. Talvez possamos entender apostura da WAN – política entre os associados.

O que deixa a desejar e desanima é a postura dos nossos diretores de redação. Na posição de mediadora busquei levar o debate para a discussão do momento: integração, convergência, perfil profissional, treinamento, investimento dos veículos em tecnologia e pessoas. Eles, na posição de convidados já vieram com discurso pronto e, o meio digital e nenhuma das questões que coloquei, não fazem parte da vida de nossas redações. O tempo todo se procurou defender o Jornalismo como o tal do último baluarte imparcial e de credibilidade incontestável da nossa sociedade democrática. Como se isso fosse contestado!

Ao que parece, mais uma vez, diante da inovação, da perspectiva de mudança e de novos ares menos tacanhos e mais criativos na produção de conteúdos diferenciados recorre-se à defesa dos valores jornalísticos como se no meio digital eles fossem para o ralo.  Uma confusão oportuna para os dinossaouros, cujos instintos percebem os sinais enviados pela natureza sobre uma reconfiguração no ecossistema. Apenas um exercício de auto-preservação da espécie.

Quanto ao destino de nossos jornais e ao debate…. pensei em jogar a toalha!

(Beth Saad)

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6 thoughts on “Ressucitando os dinossauros

  1. Jornal impresso ainda dá dinheiro no Brasil. Web não dá. Não é por falta de capacidade, etc. e etc. É por que, jornalisticamente, não dá. Tem empresa tentando inovar e não acha maneira. Sem grana: sem redação. Sem redação (e ter uma boa redação, um time, é dificílimo com tanta gente mal preparada, sem feeling pra reportagem, sem faro, mal paga, preguiçosa também, etc.) não tem jornalismo. A situação é embolada. A TV dá mais furo que blogs ou sites jornalísticos – e o pior, dá e apura. A web acaba sendo esse mar de opinião, comentários. De reportagem, quase nada – justamente porque demanda dinheiro, tempo, telefone, gente para trabalhar, coisa que a redação (com todos seus problemas) tem mais capacidade de fazer, ainda. Se vê muita experimentação, o que é bom, claro; primeiro era todo o auê em torno de ter comentários, depois formar redes sociais, hoje é micro-blogging. Mas jornalismo parrudo, peitudo, ainda é coisa rara (aliás, não só na web, mas nela muito menos). Sem contar que é a profissão nasceu para ser um pé-no-saco e pouca gente, hoje, gosta de se incomodar. Quer mais é curtir mesmo, fazer mirabolâncias, estar no hype e dar uma de gostoso. Ralar, muito pouco. Quem é que quer comprar briga, afinal? E não há porque ser criativo, arejado, etc., se não for pra ser assim, corajoso, antes de tudo, se jornalismo for essa espécie de editoria de variedades, humor ou mundo (fatos que acontecem longe, curiosidades, etc.) que a web acaba sendo. Depois, discutir com dono de jornal ou chefe de redação é o mesmo que querer mudar a maneira da Volkswagen produzir carros, querer dizer para eles abolir a gasolina e colocar motor a células de hidrogênio. São empresas privadas, tem seu jeito de trabalhar e pronto. Quem acha que dá de fazer diferente, que invista num negócio diferente, dentro das mesmas regras. Os caras lá sabem o que fazem e são macacos velhíssimos na função. Se web desse grana mesmo, já teriam migrado para cá há tempos. É só pra desabafar, numa boa. É que cansa um pouco essa sei lá se chorumela ou ranço em relação ao jornalismo em geral, como se ele estivesse condenado e a web pudesse salvá-lo. Valeu, abraços.

  2. Rogério, e que espécie de Jornalismo “parrudo” se faz hoje em dia nos meios tradicionais? Cadê a verdadeira confrontação de fatos e o debate político? Vide o sensacionalismo e pouca reflexão do caso Nardoni; vide a cobertura do caso de Dantas & Cia; e depois, pergunta-se “Por que o Jornalismo está em crise?” Jornal ainda pode vender no Brasil e no mundo, e vende, mas nem tanto quanto vendia, e a curva é decrescente. Vide a cobertura política, que parece realmente “essa espécie de editoria de variedades, humor ou mundo”, porque de política não tem nada, porque eu saiba, Jornalismo era para informar o cidadão, ou estou errada?

  3. …e quando me refiro à escassa cobertura realmente investigativa de alguns casos, como este recente, me refiro exatamente a isso: “O jornalismo “investigativo” brasileiro manifesta-se, em todo seu esplendor, nestes dias posteriores à Operação Satiagraha. Os bravos repórteres dedicam-se à estafante tarefa de recortar e colar partes do relatório parcial da Polícia Federal – ou reproduzir informações assopradas de afogdilho por alguma fonte com acesso privilegiado às investigações.” Na Carta Capital, LINK: http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=2&a2=6&i=1444

  4. Então, Beth, só pra estender o papo: na postagem tu confrontas essa coisa do impresso x online. A realidade é que no impresso existe esse jornalismo investigativo e copia e cola trechos de relatórios policiais. Na web, nem isso. Não defendo nem uma coisa nem outra. Só que a web, o suporte web, não me dá nenhuma esperança, por enquanto, de que o jornalismo se renove como o jornalismo que em alguns momentos foi. No máximo, ela copia e cola o que os jornais já copiaram e colaram dos relatórios da polícia. Então, por que essa crença de que apresentando as possibilidades de inovação a patrões do meio – que deixaram de ser editores para ser administradores, estrategistas de marketing, etc., como disse Philip Meyer – vai mudar alguma coisa? Se der dinheiro, quem sabe. E a realidade é essa: só se der dinheiro, e muito, para de repente sugir algumas iniciativas, mesmo que isoladas, do jornalismo se reerguer. Com coragem e romantismo, até se faz uma, duas vezes. Mas quando os processos começarem a bater à porta, a coisa quebra.

    É só para estender o debate. A gente sabe como o mecanismo funciona. Teve muito “jornalismo investigativo” das antigas movido por interesses “outros” de donos de jornais também (que normalmente eram polílicos, mandatários ou ligados a estes). Normalmente, precisa-se de alguém muito bem articulado, que saiba jogar e ganhar dinheiro para manter uma redação explosiva, capaz de levar vários processos nas costas e conseguir declarações numa realidade cada vez mais calada, amordaçada, onde a maioria têm seus motivos para não falar. Na web, até hoje não apareceu esse alguém e, do jeito que vai, não acho que vá aparecer.

    Abraço
    Rogério K.

  5. Rogério, fiquei em dúvida se estás respondendo a mim, Daniela, que comentou o teu comentário sobre o post da Beth, ou ainda ao post da Beth. Certamente na web há mais possibilidades de outros Jornalismos – e Jornalismo não necessariamente é texto escrito ou imagem ou foto, ou jornal ou web, tv, rádio, mas sim atitudes. A web trouxe algo muito positiva para o Jornalismo que é nos perguntarmos, antes tarde do que nunca, para que serve e o que é o Jornalismo. E acho um pouco precipitado achar que na wen não há “nem isso”- Jornalismo “copia e cola” – ainda bem, não! Ainda bem mesmo. Acho que Jornalismo é debate. Acho que o sociólogo Sérgio Amadeu, por exemplo, está fazendo mais Jornalismo do que muitos meios tradicionais sobre a apavorante lei Azeredo sobre internet, porque ao menos dá mais versões e interpreta o fato. http://samadeu.blogspot.com
    É engajado, sim. Não é parcial. É também informação, e Sérgio deixa claro sua militância. O que muitos meios tradiocionais não deixam…bom, a minha opinião é de o Jornalismo hoje é profundamente, mas profundamente lamentável, e sim, acredito que essa renovação virá (se vir) da reflexão sobre as mudanças que também a internet trouxe ao campo, e das produções indepententes no ciberespaço.

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