Eu participei apenas do primeiro dia de MediaOn público, já que o primeiro dia mesmo era restrito a convidados. Mas, mesmo assim, fiquei muito feliz por saber que as nossas discussões aqui no blog e na lista não estão muito distantes do que os jornalistas estão fazendo por aí:
Derek Thomson, editor-chefe de novas mídias da FRANCE 24, site este que desconhecia e adorei conhecer, reafirmou pontos interessantes como:
- Redações cada vez com menos divisões, tanto físicas quanto funcionais. Os jornalistas, cada um com sua especialização, mas capazes de colaborar de forma coletiva para a produção do produto final entregue aos usuários.
- Ao contrário do que se faz normalmente, a FRANCE 24 optou pelo vídeo como ponto principal da notícia tendo o texto e demais elementos multimídia como suporte à informação em vídeo.
- Não devemos subestimar o interesse dos usuários pela diversidade do conteúdo, quando se pensa que o usuário não teria interesse por conteúdo multimídia.
Já a diretora de conteúdo do UOL, principal site da internet brasileira, Márion Strecker, realmente foi um show de obviedades, de metáforas infelizes e de uma elevação do jornalista ao panteão da sabedoria universal que há muito se sabe que este não possui, como a Ana Brambilla comentou em seu Libellus. Para ela, Marión, basicamente jornalismo é para jornalista e qualquer outro conteúdo “amador”, no caso do UOL, deve se relegado ao serviço de blogs que o portal oferece aos seus usuários.
Apesar de ser uma posição não condizente com a atual realidade do jornalismo digital eu compreendo a posição dela. Assim como a Marión, muitos gestores de empresas jornalísticas pensam da mesma maneira, como a Dani Bertocchi comentou em nossa lista. Isto reafirma uma tecla que eu sempre faço questão de pressionar: só vamos ver grandes mudanças no jornalismo digital à medida que a atual geração de gestores, formada no jornalismo impresso, seja substituída por aqueles jornalistas que já nasceram em um mundo digital ou por aqueles que se converteram a essa realidade. Ainda bem que isso está acontecendo mais rápido do que eu pensava :-). Além disso, almocei hoje com o amigo Fábio Cardoso e este comentou algo importantíssimo sobre o assunto. A liberdade de imprensa ainda é algo bastante complicado no Brasil e realmente um veículo pode ser punido ou processado pelos comentários e intervenções de seus usuários. De todo modo, uma opinião destoante sempre é bem-vinda ao debate.
Bom, alguns pensamentos de Marión:
- Um veículo dito jornalístico não deve terceirizar sua produção jornalística. Quem é o leitor? Do quê adianta tanta colaboração sendo que a maioria não passa de achismos e não agregam nenhum valor jornalístico à notícia.
- A colaboração sem controle pode dar voz a crimes (calúnias, injúrias, racismo). Além disso, essas mensagens unidas aos achismos e opiniões sem valor algum formar um excesso que irrita o usuário. A consequencia é a perda de credibilidade do veículo, que passa a não atender os desejos do leitor e, sem atender o leitor, não há anunciantes.
- O usuário não gosta de ser censurado e ao mesmo tempo não abre mão do anonimato. Uma solução seria deixar bem claro as regras de edição de comentários e colaboração para que a edição das contribuições pudesse ser feita com todos conhecem o funcionamento do jogo. A colaboração sem edição e anônima só seria permitidas em mecanismos como enquetes, cuja importância jornalística se daria pelos total de números absolutos de votantes e não por suas opiniões individuais.
Os demais palestrantes (Cristina De Luca, Brasil Mídia Digital; e Bob Fernandes, Terra Magazine) acabaram focando suas apresentações na narrativa de suas experiências e planos de suas respectivas empresas para o mundo digital. Mas nenhuma novidade de ambos os lados.
No próximo post, comentarei o painel “A informação e as novas tecnologias”.
Este Derek Thomson tem idéias interessantes. Temos que ficar de olho na França também!
Minha pergunta é só uma: foi mais oba-oba do que evento ou foi mais evento do que oba-oba?
Bom, particularmente, eu considerei mais evento do que oba-oba, muito devido aos convidados internacionais. Todos muito eloqüentes, com boas idéias e novas visões daquilo que já é sabido por todos.
Além disso, os projetos demonstrados por eles, principalmente o FRANCE 24 e o Beta.cnn.com, foram bastante inspiradores e provaram que estamos seguindo o caminho certo em nossas idéias aqui no Intermezzo (blog e lista) e, no meu caso, com o conteúdo que leciono aos meus alunos de jornalismo.
Caros, no geral, o tal do MediaOn foi bem lamentável. Com a exceção de dois ou três palestrantes, o resto foi uma enxurrada de lugares-comuns.
Uma coisa interessante que não conhecia foi o Yahoo Pipes, que o Sílvio Meira mostrou. Parece ser uma ferramenta interessante, com muito potencial.
Parabéns pelo blog e pelas idéias e abraços a todos vcs,
Mateus
Oi André!
Foi bom lembrares desse pensamento da Márion… de que os usuários não abrem mão do anonimato.
Deus como essa criatura está mal-informada! Ou os mais de 30 mil colaboradores do OhmyNews não teriam enviado cópia de seus passaportes ou carteiras de identidade (inclusive eu!) para requerer o direito de ser cidadão repórter do noticiário…