Lembro-me da primeira vez que neveguei por um hipervídeo. Foi em 2002, há quase cinco anos, durante uma aula de pós-graduação da PUC de São Paulo.
Um convidado apresentou a novidade a mim e aos demais alunos: tratava-se de uma reportagem online sobre “esportes radicais” construída a partir de vídeos interligados.
Nós, alunos, clicávamos dentro do vídeo (na imagem de um desportista, por exemplo) e éramos deslocados para outro vídeo (uma entrevista com o tal desportista, para este exemplo).
Achámos a experiência estimulante, verdade. Mas o fato é que, depois disso, foi somente ocasionalmente que ouvi falar deste tipo de construção: o hipervídeo.
Penso que o termo acabou não pegando com força; nem no âmbito do mercado, tampouco no acadêmico.
Entretanto, a idéia de ligar vídeos entre si para contar uma história (e não só) vem se desenvolvendo ao longo dos anos.
No mundo da web, o hipervídeo, ainda que sem este nome, tem sido experimentado muito por conta das possibilidades abertas pelo Flash. E, no mundo da televisão, está sendo testado por aqueles que trabalham com produção de conteúdos interativos para a tv digital.
Mas essa fronteira tende claramente a se esbater pouco a pouco. Lembremos da tal convergência entre computador e TV. Esses mundos tornam-se um apenas.
Foi por isso que arregalei os olhos ao ler um post do colega André Deak intitulado “Fizemos o hipervídeo“.
Curioso o termo voltar à tona (pelo menos pra mim!) e ainda mais (e felizmente!) fazendo referência a uma reportagem em hipervídeo publicada esta semana por um veículo de comunicação público brasileiro, a Agência Brasil.
Então lá fui eu ver do que se tratava. A reportagem em hipervídeo chama-se Consumo Consciente. São cinco vídeos sobre o como se tornar um consumidor mais consciente de seus direitos e deveres. Clica-se em determinadas imagens dos vídeos e é-se remetido para outros vídeos ou textos relacionados. Em seu todo, é um hipervídeo atraente e muito bem cuidado (presumo que deva haver muita transpiração por detrás daquela limpidez do projeto…).
Yasodara Cordova, designer responsável por este hiper-vídeo-reportagem, afirma que se trata de “uma exploração da mistura da TV com a Internet”, algo que, segundo ela, antecipa a TV Digital. E eu acrescento: antecipa a TV digital *interativa*.
Isto porque toda a idéia de base do hipervídeo, como reforça Yasoara, é o touch screen. Isto é: tocamos na tela para navegar pela história, esteja esta em que formato for; texto, vídeo, foto, áudio. (Lembram-se do Tom Cruise no Minority Report? Pois é, mais ou menos aquilo…).
Esta reportagem da Agência Brasil é uma das provas de que as experiências em torno do hipervídeo informativo estão (ou continuam) pululando por aí e que vale a pena perceber como se manifestam e evoluem.
Um dos pontos que mais me chama a atenção neste cenário é certamente o da linguagem (e também da cognição). Sobretudo o que significa ter uma imagem em movimento a funcionar como link.
Sobre este aspecto em particular, a supracitada Yasodara fez um comentário muito interessante em seu blog, o qual reproduzo abaixo para encerrar por aqui este longo post (negritos meus):
“Para haver interatividade em TELA a IMAGEM é tudo. Penduramos os links em momentos dos vídeos referenciados com o conteúdo dos mesmos, numa relação quase subjetiva, por causa da distância entre as linguagens, creio eu. “Como assim?”, pergunto. É que a na TV as imagens às vezes são referências, não necessariamente significam o conteúdo. Na internet precisam significar, assim como cada palavra lida num texto. Pense em uma cor vermelha. Agora leia kkkkkKKKKKKK. Já está lá, que o vermelho corresponde a essa frequência no seu cérebro. Não precisa duplicar, ao contrário: tendo que transmitir rápido, uma referência só já basta, já que a mente precisa absorver só 1 vez a informação. Apelando para Platão: …se algo parece assim, então esse algo realmente parece assim: a aparência em si mesma deve ser parte da realidade…(O Sofista)”
Daniela, muito interessante o histórico do hipervídeo que você conta. Achei incrível, entretanto, o fato de que nós aqui não conhecíamos isso – nem mesmo o termo “hipervídeo”. Foi uma escolha lógica para explicar a estrutura da reportagem, uma vez que o termo hipertexto já é comum.
O trabalho foi, de certa forma, um marco de transição nas reportagens multimídia que tínhamos feito até então. Pela primeira vez usamos uma narrativa não-linear: o usuário pode escolher por onde entra, seja pelos vídeos ou pelos conteúdos de texto. Além disso, a experiência em flash com o hipervídeo foi também a nossa primeira tentativa com esse nível de interatividade.
Ainda não estamos trabalhando em nenhum outro projeto desde porte, mas se tiver alguma idéia ou sugestão (especialmente no que se refere a interatividade), por favor nos avise.
(Recentemente, escrevi um texto chamado “Jornalismo Video-Game”, que foi publicado no Observatório da Imprensa. Se puder, gostaria que desse uma olhada)
Obrigado pela referência e um abraço
Estou a espera que algum colega da pós (ou mesmo a profa. Beth Saad, que estava presente naquele dia) me ajude a lembrar o nome do menino que fez o hipervídeo em 2002!
Mas, no fundo, o mais relevante é que vocês surgiram com uma boa notícia, uma boa produção, saíram na frente, sem dúvida, no Brasil, pela criatividade, pela iniciativa.
Eu apenas não falaria em “não-linearidade”, mas em “multi-linearidade”, posto que os caminhos possíveis são múltiplos.
Vamos mantendo contacto.
Dani
hehehe … achei suuper divertido ler isso, o menino da apresentação era (sou) eu 🙂
Tentei por mais algum tempo produzir, hipervídeo, até fui procurar a Beth Saad na época para seguir com a idéia até mesmo em um mestrado, mas a rotina de traalho acabou sufocando a idéia. Desenvolvi outro hipervideo e participei de congressos de educação a distância nos estados unidos e outro no Peru, mas acabei mudando o foco das atividades.
Tentei algumas empresas, mas não se interessaram, devido ao custo de sua produção.
Na época em que fiz o hipervídeo, tinha lido um artigo da MIT a respeito, mas não tinha encontrado nada em funcionamento.
Fiquei suuper contente em ler esse artigo aqui … 🙂
beijos
Catoto
Daniela, muito obrigada pelo “hipervídeo atraente e muito bem cuidado”! Realmente foi fruto de muita transpiração…
Boa referência ao Minority Report: com certeza não vai demorar muito para acontecer, se é que não está acontecendo em algum laboratório por aí. Melhor ainda se for em algum laboratório de jornalismo, não é?
Valeu pela referência e abraços
Yaso
André Catoto,
Por favor, não desapareça mais! 🙂
Deixe seus contatos e redes, por favor, para nos comunicarmos.
Beijosssss,
Dani