Conforme anunciado aqui no Intermezzo, realizou-se nos dias 3, 4 e 5 de maio o I Abrapcorp, congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, no qual coordenei o GT – Comunicação Digital e Tecnologias Inovadoras. Compartilho algumas reflexões que considero realmente produtivas para o nosso campo.
1. Uma visão sociológico-antropomórfica das tecnologias digitais
Interessantíssima a intervenção do professor da Eca, Massimo de Felice, que apresentou um trabalho sobre as formas de organização social e sua relação direta com as tecnologias utilizadas no processo comunicativo. Recorrendo à metáfora da água viva (que só existe porque é feita de seu próprio meio – a água, portanto, nela coexiste), Felice afirma que a estrutura da comunicação em rede é a própria rede, numa coexistência em fluxo contínuo. Portanto, podemos concluir que nos meios digitais não há como separar o processo de produção do processo informativo, rompendo com a tradicional separação entre “interno” e “externo”, “público” e “privado”, “meu” e “nosso”.
Aceitando as considerações do professor, temos espaço para repensar o processo de contrução da informação digital, especialmente quando falamos de notícias.
2. Simetria-Conversações-Integração
Três conceitos recorrentes que permearam as diferentes apresentações do GT Comunincação Digital. Sempre presentes ao nos referirmos a sistema e estratégias de comunicação digital. O primeiro deles – a simetria comunicacional – considera que o comportamento dos comunicantes baseia-se na não aceitação das diferenças, portanto no equilíbrio dos discursos. Assim, poderíamos inferir que a estrutura do jornalismo digital deveria aceitar diferentes vozes, e diferentes intervenções. Muito próximo dos conceitos de jornalismo participativo. A segunda recorrência refere-se às conversações (termo bastante explorado pelo sistema semântico do Google). Falamos aqui de uma cultura digital coletiva que permite escolhas definidas após ou a partir da troca de experiências entre os comunicantes. Portanto, mais uma vez, o privilégio à simetria. Por fim, as interações aqui consideradas como o resultado natural de um sistema conversacional simétrico.
Penso que tais reflexões poderiam ser incluídas nas propostas que temos sobre uma linguagem para o jornalismmo digital.
Se me permite, Beth… nessa direção, camnhamos firmes e acelerados para uma teoria da comunicação online. Mais do que necessária para ao menos compreendermos os dias de hoje e o furacão em que estamos metidos.
É fascinante a metáfora da Água Viva, evocada pelo Prof. Massimo. Mostra-nos uma linha muito tênue entre o que chamamos de organização e o que consideramos meio social.
Ao enxergarmos a sociedade em um modelo reticular, a idéia de uma organização perfeitamente delimitada (que nos diagramas corporativos tende a ficar no centro da página) cai por terra, diante da multiplicidade de interesses dos indivíduos. Em um modelo mais complexo, poderíamos imaginar que a idéia de organização resume-se a um conjunto de relações entre indivíduos, inseridas num emaranhado de outras, com naturezas diversas – como “morar em um mesmo bairro”, “criar a mesma raça de cachorro”, “ter o mesmo tipo de enfermidade” ou “interessar-se pela preservação dos ursos polares”.
Com base em definições de “públicos” descritas por estudiosos como Blumer e Dewey, observa-se, por exemplo, que indivíduos múltiplos que compartilham uma questão (como “defender o acesso à educação” ou “produzir celulose”) podem mobilizar-se. Sob este ponto de vista, um conjunto de relações complementares mostra-nos o gérmen de uma organização. Se observarmos o modo de estruturação de um planejamento estratégico, a missão de uma organização parece definir a questão essencial, o fio comum que reúne indivíduos tão diversos quanto múltiplos. Nossa atividade como comunicadores organizacionais passa, portanto, pela leitura dessa rede e pelo entendimento de como o conjunto de relações que nomeamos “organização” interage e convive com outras interações sociais. E enfim, por meio meio da informação, contribuir para conciliações possam atuar no equilíbrio da rede, em seu eterno processo de transformação.