QUE NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO
‘Em 1823 já havia jornais pelo Brasil. Mas em São Paulo, graças a uma série de dificuldades opostas pelo governo do Império, ainda não eram conhecidas as caixas de tipos, a bolandeira e a prensa. (…) Diante disso (…) alguns paulistas, pensando que quem não tem cachorro caça com gato, resolveram fundar de qualquer maneira seu jornal. (…) O autor da iniciativa foi o Mestrinho, (…) Mariano de Azevedo Marques. (…) Foi ele quem fundou O Paulista, um jornal manuscrito em papel de cartório. A redação era em sua casa (…). Na varanda, três mesas com tinteiro de vidro, a pena de pato e o pote de areia para enxugar o traslado (…). A assinatura de O Paulista custava 320 réis. Mas cada exemplar correspondia a cinco assinantes. De modo que, quando um terminava a leitura, mandava o moleque entregar ao seu sócio, que morava na vizinhança. A tiragem, que era limitada a quarenta cópias, só crescia de um exemplar cada vez que mais cinco novos abonados assinavam na lista. Segundo parece, é por isso que no Brasil se usa a palavra assinante com tal sentido. O programa do jornal era comunicar e disseminar as luzes necessárias num país livre, para dirigir a opinião, cortando pela raiz os boatos que os malévolos não cessam de espalhar (…)’.
Trechos do artigo “O Paulista”, escrito pelo jornalista Afonso Schmidt em 1954, publicada no O Estado de S. Paulo no mesmo ano. Schmidt faleceu em 3 de Abril de 64. Fica aqui um post em sua homenagem. 😉 (Foto: imagem do centro de SP na década de 70).